Mensalidade de escolas particulares deve subir quase 10% em 2026, aponta pesquisa

Estudo revela que inflação, salários de professores e novos investimentos estão entre os principais fatores para o reajuste

As mensalidades das escolas particulares no Brasil devem subir, em média, 9,8% em 2026, segundo projeção do grupo Rabbit, consultoria especializada em gestão educacional. A pesquisa, que ouviu 308 instituições de ensino privadas em diferentes regiões do país, mostra que cerca de 40% dos colégios devem aplicar um reajuste de 10%.

O índice projetado é mais que o dobro da inflação estimada para este ano, de 4,8%, conforme o Boletim Focus do Banco Central. Para os especialistas, a disparidade entre a inflação e o reajuste educacional está ligada a custos específicos do setor, como salários de professores e investimentos em infraestrutura.

Impacto da pandemia ainda pesa nas contas

De acordo com o CEO do grupo Rabbit, Christian Coelho, as escolas ainda sentem os efeitos da pandemia. “Apesar do aumento nas matrículas, os colégios particulares não conseguiram recuperar as perdas financeiras dos últimos anos”, explicou.

Segundo ele, instituições menores devem equilibrar suas finanças mais rapidamente. “As escolas com até 80 alunos devem aplicar um reajuste médio de 8,4%, enquanto nos colégios maiores, com mais de 850 estudantes, o aumento deve ficar em torno de 9,2%”, disse Coelho.

O que compõe o reajuste

O cálculo dos aumentos leva em conta três fatores principais: inflação acumulada, dissídio dos professores e novos investimentos para o próximo ano. “O valor do aumento no salário dos professores é sempre maior que a inflação e representa entre 45% e 55% do orçamento das escolas”, destacou Coelho.

A pesquisa mostra ainda que 70% das escolas pretendem usar o aumento para investir em atividades complementares, como programas bilíngues e aulas de maker, enquanto 52% devem aplicar os recursos em melhorias de infraestrutura.

Apesar do reajuste, a lucratividade média das instituições deve permanecer em torno de 14%. “As escolas vão querer investir em diferenciais, mas isso pressiona ainda mais as contas e dificulta aumentar o lucro”, avaliou Coelho.

A lei do celular e novos gastos

Outro fator que pesou nos orçamentos foi a implementação da lei que proíbe o uso de celulares em sala de aula. Levantamento da consultoria Meira Fernandes, que entrevistou 120 colégios de dez estados, aponta que 30% das escolas fizeram investimentos físicos para atender à legislação, incluindo compra de cofres, armários e sistemas de monitoramento.

Segundo o estudo, 47,83% das instituições desembolsaram entre 1% e 2% do orçamento para cumprir a norma, enquanto a maioria gastou menos de 5%. “O enquadramento é de recomposição e equilíbrio das contas, e não ganho extra”, afirmou o sócio-diretor da empresa, Husseine Fernandes.

Inadimplência segue como desafio

A pesquisa da Rabbit projeta que a taxa de inadimplência em 2026 fique abaixo de 5%. Já no levantamento da Meira Fernandes, 85,2% das escolas estimam atraso no pagamento de mensalidades acima de 1%.

“O atraso está virando regra, e não exceção. Isso gera um efeito cascata no fluxo de caixa”, alertou Fernandes. Entre as justificativas estão a dificuldade de recuperação econômica das famílias, além do aumento constante das mensalidades.

Direitos dos pais e limites da lei

Apesar da autonomia das escolas em definir os valores, a legislação estabelece que o reajuste só pode ocorrer uma vez ao ano. Além disso, as instituições têm a obrigação de apresentar às famílias as planilhas de custos que justifiquem os aumentos.

Para órgãos de defesa do consumidor, a transparência é fundamental. O Procon alerta que os pais têm o direito de solicitar os documentos e contestar eventuais abusos.

Expectativa para 2026

Com os aumentos projetados, especialistas preveem um cenário de maior seletividade por parte das famílias na escolha das escolas. Diferenciais como ensino bilíngue, atividades extracurriculares e infraestrutura de ponta devem ganhar peso nas decisões.

“É uma equação difícil: de um lado, as escolas buscam inovar e se diferenciar; de outro, as famílias enfrentam limites orçamentários cada vez mais apertados”, resumiu Coelho.

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