Consultora de imagem alerta para impactos ocultos do ‘couro vegano’ na moda sustentável

Marcia Jorge questiona a real sustentabilidade de materiais sintéticos vendidos como ecológicos e aponta alternativas naturais

Na onda crescente da moda sustentável, o chamado “couro vegano” ganhou espaço nas vitrines e nas redes sociais como alternativa ética ao couro de origem animal. Mas será que ele é mesmo tão ecológico quanto parece? Para a stylist, figurinista e consultora de marca pessoal Marcia Jorge, a resposta é não. Atuando no mercado da moda desde 1998, ela alerta: por trás do apelo verde, o material esconde problemas ambientais relevantes e baixa durabilidade.

“Estamos falando de um material sintético, geralmente feito de PVC ou poliuretano, derivados do petróleo e de difícil reciclagem. Chamar isso de ecológico é enganar o público com uma maquiagem verde”, afirma Marcia, que já assinou figurinos para marcas como Avon, Coca-Cola e Grupo Boticário.

Segundo a especialista, as consequências desse uso indiscriminado já são visíveis na prática. Em seu trabalho de consultoria e manutenção de acervo, ela observa com frequência o desgaste precoce de peças feitas com esse tipo de material. “Vejo jaquetas, bolsas e sapatos com menos de dois anos apresentando rachaduras, descascamento e uma textura pegajosa, impossível de recuperar. São resíduos têxteis que não têm conserto e acabam descartados no lixo comum”, relata.

O impacto ambiental oculto do couro sintético

A crítica de Marcia Jorge vai ao encontro de estudos recentes da World Wide Fund for Nature (WWF). De acordo com a organização, materiais como PVC e PU (poliuretano) não se decompõem naturalmente e apresentam baixíssimo índice de reciclagem. Além disso, o processo de fabricação desses materiais envolve compostos químicos tóxicos e depende fortemente de combustíveis fósseis.

Ou seja, ao contrário do que o termo “vegano” pode sugerir, o chamado couro ecológico, na maioria dos casos, não é biodegradável e nem ambientalmente neutro.

“Na moda, nem tudo que parece verde é de fato sustentável. A verdadeira moda sustentável passa por outras práticas: comprar menos, priorizar peças duráveis, optar por materiais honestos e exigir transparência das marcas. Não se trata de trocar um produto por outro que simula o que não é”, reforça Marcia.

Alternativas mais sustentáveis já existem

Embora o couro de origem animal também tenha impactos ambientais associados à pecuária, a especialista lembra que existem opções mais equilibradas. Entre elas estão materiais obtidos de fontes naturais ou resíduos industriais, com processos de produção menos agressivos ao meio ambiente.

Marcia cita como exemplos:

  • Piñatex, feito a partir de fibras de folhas de abacaxi

  • Couro de maçã, derivado da indústria de sucos

  • Couros vegetais em desenvolvimento, como os obtidos de cogumelo, cacto, uva, kombucha e borra de café

  • Tecidos naturais como algodão encerado, linho e lona

“O mais interessante nesses materiais é que eles assumem sua natureza original. Não tentam imitar o couro animal, mas oferecem alternativas estéticas e funcionais próprias, com menor impacto ambiental e mais transparência para o consumidor”, destaca Marcia.

Moda sustentável é mais do que aparência

Para a consultora de imagem, o maior desafio está na conscientização, tanto da indústria quanto do público. “As marcas precisam parar de usar termos como ‘eco-friendly’ sem critério. Sustentabilidade não é aparência, é compromisso com o impacto ambiental e social do que se produz”, afirma.

Marcia reforça que cabe também aos profissionais da moda orientar os consumidores com informações honestas e bem embasadas. “Nós, estilistas, consultores, figurinistas, temos o dever de ser canais de informação real, e não apenas replicadores de tendências superficiais.”

Quem é Marcia Jorge

Psicóloga de formação, Marcia Jorge construiu uma carreira consolidada como stylist, figurinista e consultora de marca pessoal, aliando conhecimento técnico em moda a uma abordagem focada em comportamento e identidade. Desde 1998, já atendeu grandes marcas como Grupo Boticário, Avon, Romanel, Ibramed, Amanco, Coca-Cola e Porto Seguro, além de atuar em estúdios fotográficos e campanhas publicitárias nacionais e internacionais.

Foi colunista de moda do Portal Terra e colaboradora de veículos de comunicação, com participações frequentes no programa Mais Você, de Ana Maria Braga. Em sua trajetória, defende que a moda deve ser leve, libertadora e acessível, ajudando pessoas a se reconectarem com sua identidade e bem-estar.

Para mais informações sobre o trabalho da consultora, é possível acompanhar o conteúdo no Instagram @marciajorge ou visitar o site oficial da profissional.

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